Daniel Frazão
Primeiro, é preciso sacar a rolha da garrafa, libertar o capeta que mora no conteúdo do recipiente e despejá-lo no interior da taça. No momento em que sorvo o mosto com o devido respeito, injeto uma dose de loucura nas minhas artérias e veias e substituo o antigo sangue careta por outro solerte que me inunda a alma.
Aos poucos, meu corpo perde a retidão de
outrora e passa a se movimentar como um meneio. Meus braços começam a se
escorar pelas paredes. Sigo me escorando entre os cantos chanfrados dos cômodos
que vou redescobrindo na minha própria casa. Ao mesmo tempo, me sinto ainda
mais vivo, como se este novo sangue fizesse com que minha alma se tornasse
puramente instinto e abandonasse qualquer racionalidade.
Muita vontade de tomar vinho tinto, depois de ler esse belo texto.
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