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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Veritas

Daniel Frazão

Primeiro, é preciso sacar a rolha da garrafa, libertar o capeta que mora no conteúdo do recipiente e despejá-lo no interior da taça. No momento em que sorvo o mosto com o devido respeito, injeto uma dose de loucura nas minhas artérias e veias e substituo o antigo sangue careta por outro solerte que me inunda a alma.

Aos poucos, meu corpo perde a retidão de outrora e passa a se movimentar como um meneio. Meus braços começam a se escorar pelas paredes. Sigo me escorando entre os cantos chanfrados dos cômodos que vou redescobrindo na minha própria casa. Ao mesmo tempo, me sinto ainda mais vivo, como se este novo sangue fizesse com que minha alma se tornasse puramente instinto e abandonasse qualquer racionalidade.

Ao mesmo tempo em que bebo o vinho tinto, minhas narinas se apropriam do seu perfume e aquela sobreposição de odores acaba por se tornar também um vício. Sinto a delícia na superfície da língua, no céu da boca e vou me inebriando com esse cheiro sinuoso que até se parece com o balanço da mais bela dama.

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