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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sinal fechado

Ivan Nery Cardoso

Com o freio de mão puxado, os motores rugem no sinal, ansiosos para correr, gritar, ranger; reflexo dos motoristas enclausurados, do dia quente, do rádio ligado, dos sovacos molhados. De dentro de um ônibus vermelho, a cabeça de um motorista espia para fora da janela o retrovisor lateral, enquadrando o rosto no reflexo: primeiro o lado direito, depois o esquerdo. Ajeita as sobrancehas grossas com o dedo médio e com um único mindinho alisa a superfície do nariz, analisa a textura da pele, como se à procura de evidências de um cravo ou uma espinha já espremidos. Coloca os óculos e se observa mais atentamente. Olha os dentes, tenta tirar algo com a língua, alisa os cabelos que crescem apenas nas laterais, começa a pentear para os lados os fios espessos do bigode com o polegar e o indicador, mas o ronco das motos e dos carros se acentua, anunciando a iminência do movimento,  do sinal que fica verde. Engata a primeira, abaixa o freio de mão e volta a desaparecer detrás de seu volante.

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