Bea Elsborg
Senti o telefone vibrar no bolso esquerdo da calça. Enquanto segurava o volante com a mão direita e continuava acelerando, utilizei desajeitadamente a mão esquerda para passar embaixo do cinto de segurança e conseguir tirar o telefone do bolso da minha calça de sarja.
A escuridão da noite atingia
o interior do meu carro. A penumbra se interrompeu quando apertei o botão do
celular. Um olho no caminho e outro na tela do celular. Uma mão no volante e a
outra no celular. Uma mensagem de Whatsapp atravessava a tela com os dizeres
“Amor: Vê se hoje você não se atrasa (emoji de coração)”. Meu coração deu um pulo, sorri, soltei o
volante e mudei de marcha. O telefone continuava na mão esquerda que
desajeitadamente procurava o bolso da calça. A voz de Alessandra do Waze
ressonou no carro: “Em 500 metros, vire a direita”.
Um barulho seco ecoou no
interior do automóvel. “Droga!” resmunguei. Deixei o telefone cair. Tirando a
vista do caminho, tentei utilizar meu pé esquerdo para chutar o telefone até
algum ponto onde conseguisse pegá-lo. O motor ronronava, mudei de marcha, e
continuei. “Em 200 metros, vire a direita”
Senti o aparelho bater
contra a porta. Continuei de olho no caminho, enquanto me abaixava para
recuperá-lo. “Pronto!” Gritei enquanto segurava o telefone na mão esquerda. “Em
100 metros, vire a direita”. Justo no momento em que um carro vermelho se
incorporava na minha faixa, tentei parar, volante à direita, buzinei. O som de
pneus, buzinas e lâmina de auto se espalharam pela Marginal Pinheiros.
“Em 500 metros, vire a
esquerda para retorno”.
“Droga! Vou me atrasar de
novo” repeti para mim mesma.
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