Zulmira Carvalheiro
Há algumas coisas nesta vida que não entendo.
Vivo aqui nesta casa desde sempre, todos me tratam bem, me trazem brinquedos, brincam comigo e contam histórias. Mas sou proibida de passear sozinha. Há sempre alguém segurando a minha mão quando estamos lá fora. Não posso nem correr atrás das pombinhas, nem subir em árvores, nem nada. Apanhar flores e catar pedrinhas com as duas mãos também é impossível.
Uma noite, quando todos estavam dormindo, tentei sair por uma das janelas. Então percebi: todas têm grades de ferro.
Uma única vez fomos até o limite do jardim, isso depois de eu pedir muito. Só concordaram quando perceberam lágrimas nos meus olhos. Fiquei admirada com a altura do muro. "Para que um muro tão alto?" perguntei. Nenhuma resposta.
Há algum tempo comecei a ter vontade de sair daqui. Eles afirmam que nada existe para além do jardim, mas acho difícil acreditar.
Hoje tentei largar a mão do meu acompanhante. Ele percebeu na hora e segurou mais forte ainda, chegou a doer. Voltamos logo para dentro.
Quando eu era mais jovem não pensava nessas coisas, porém agora vivo atormentada por dúvidas e curiosidades que nunca são esclarecidas.
Meu desejo é voar para longe daqui. Se pudesse iria agora mesmo. Isso me lembra um dos grandes mistérios que me cercam: por que as outras pessoas não têm asas?
Oi Zulmira, gostei muito do seu texto, ele tem uma construção legal, instigante. Acho que ele nem precisaria ser tão curto, você poderia desenvolver mais esse personagem (que é bem interessante), dar mais piistas, etc.
ResponderExcluirBeijos!